Harry Crowl - Obras Orquestrais


01 Icnocuícatl (1995, revisão 1998), para orquestra de câmara [mp3]
Orquestra de Câmera do Conservatório Bruckner (Linz, Áustria)
Norbert Girlinger
, regente

02 Sicut erat in principio (1998), para orquestra [mp3]
Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas
Karl Martin, regente

03 Aetherius (2002), para orquestra de cordas [mp3]
Orquestra UNISINOS
Roberto Duarte
, regente

04 De Fluminibus, 4 reflexões sobre rios (2006) para orquestra de cordas [mp3]
I. Rios Imaginários
II. Assoreamentos
III. Rios Furiosos
IV. Rios Ausentes
Orquestra de Câmara da Rádio Romena
Christian Brancusi, regente


(...)

Wellington Bujokas - A decisão de se estabelecer em Curitiba, em 1994, bem como a atração por regiões frias que você freqüentemente comenta em nossas conversas, sobretudo no interesse pelo norte e leste europeu, me parecem moldar aos poucos uma certa “estética do frio”. Como você já afirmou, as imagens externas são cada vez mais importantes enquanto motor de sua escrita — embora elas já estivessem presentes há muito tempo no seu trabalho. Da mesma forma, são parcas, na sua escrita, as sugestões a uma ação contínua que pudessem indicar direcionamento ou mesmo desenvolvimento, e a tensão tem uma tendência à estática. Por fim, você se aproximou da poesia simbolista, e obras mais recentes, como o Concerto para oboé e cordas (2001), o Concerto nº2 para flauta e orquestra de câmara (2002), Aetherius (2002), e De Fluminibus (2006), não têm o mesmo colorido orquestral que a Sinfonia nº1 e o Icnocuícatl (1995). Seria pertinente falar em uma "estética do frio"?

Harry Crowl - A sua observação é muito interessante, mas nunca pensei necessariamente numa "estética do frio". Como nasci e cresci numa região montanhosa, o frio sempre fez parte da minha vida e físicamente, sempre me senti melhor no frio que no calor. Talvez, por isso sempre tenha olhado para a idéia do país tropical com uma certa desconfiança, embora sinta também muita atração pelas cores vivas e intensas das regiões quentes. Em Curitiba, mergulhei num universo mais intimista e passei a ter acesso a intérpretes e grupos musicais mais próximos de mim. Quando vivia em Ouro Preto, não tinha qualquer músico à minha volta. Quase não tinha com quem falar do meu trabalho, o que muitas vezes me levava a um estado depressivo. Em Curitiba, apesar dos senões freqüentemente colocados por nativos e alguns forasteiros, encontrei um local de trabalho perfeito, onde posso interagir com meus pares na medida da minha necessidade.

O Concerto para oboé foi escrito para o oboísta Lúcius Mota, de Tatuí, mas também para a Orquestra de Câmara da Cidade de Curitiba. Aetherius foi escrito para a Orquestra Sinfônica da USP. De Fluminibus, para um concurso de composição em Belo Horizonte e o Concerto nº2 para flauta foi escrito e estreado pela Orquestra Filarmônica da UFPR e o flautista paranaense Fabrício Ribeiro. Nessas obras, assim como em Icnocuícatl, há um elemento de perda, algo um tanto elegíaco. Aetherius faz referencia à morte do meu primo Erich Mathias, que era um cientista político envolvido com questões do terceiro mundo. Éramos um tanto como irmãos e tínhamos idade bem próxima. Quando vivi nos EUA, morei na casa da minha tia, e tínhamos uma convivência constante. Ele sempre vinha ao Brasil me visitar. Ele morreu num inexplicável acidente de carro chegando a Iowa City, depois das festas de ano novo, em 1999. Foi uma época complicada de minha vida, mas que pude superar numa boa por que o mundo à minha volta me apoiava. Sentia-me como se Curitiba tivesse sido sempre a minha cidade. Rapidamente, comecei a absorver os elementos à minha volta, sem esquecer naturalmente, a experiência anterior.

(...)

Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui

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