Harry Crowl - Concerto para violino, 12 instrumentistas e soprano


01 Concerto para violino, 12 instrumentistas e soprano (1988)

I. Introdução com cadência
II. Ária (In Memoriam Carlos Drummond de Andrade) Solo soprano
III. Antífonas
V. Cadências II
VI. Conclusão


02 Memento Mori (1987), oratório para vozes solistas e conjunto de câmara, sobre texto de Affonso Ávilla

I. Introdução: conjunto instrumental
II. Recitativo a 3: Soprano. Barítono, Narradora, Percussão e Violoncelo
III. Ária a 5: Quinteto de Flautas doce, Cravo e Percussão Recitativo: Soprano, Viola e Violão.
IV. Ária a duo: Soprano, Barítono, Violoncelos I e II, Glöckenspiel e Órgão (Attacca)
V. Recitativo: Narradora e formação da Ária a duo.
VI. A due cori: Soprano e conjunto instrumental
VII. Postludium: Órgão solo e conjunto instrumental

Hariton Nathanailidis, violino (faixa 1)
Lucila Tragtenberg, soprano
Camerata Philharmonia
Sérgio Dias, regente

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Wellington Bujokas - E nesse tempo que passou em Ouro Preto, quais seriam as obras mais significativas no desenvolvimento dessa linguagem? Como foi o caminho que se foi abrindo após a Aluminium sonata?


Harry Crowl - Memento Mori (1987), Concerto para violino, 12 instrumentistas e soprano (1988), Finismundo (1991), Sinfonia nº1 (1990-91), Canticae et Diverbia, Jeremia Propheta: Uma Epígrafe (1992), Na perfurada luz, em plano austero (1992-93), Umbrae et Lumen (1993). (1989),


Memento Mori, um oratório para solistas e conjunto instrumental, é uma composição muito significativa para mim. Foi baseada no texto Barrocolagens, de Affonso Ávila. Em janeiro de 1987, estava em São Paulo para o 1º. Congresso Brasileiro de Musicologia Histórica, para apresentar um trabalho sobre a Missa e Credo para coro e órgão, de 1826, de Jerônimo de Souza Queiroz (17?-18?), que eu tinha restaurado a partir dos manuscritos existentes na Coleção Curt Lange, em Ouro Preto. Não conseguia parar de pensar nas características muito peculiares da música feita em Minas nos século XVIII e XIX e em como poderia transpor isso de alguma maneira para um universo contemporâneo sem parecer uma tentativa de recriação do passado, como alguns compositores neoclássicos já tinham feito, inclusive Stravinsky. Ao conversar com o colega, hoje regente e musicólogo, Sérgio Dias, que na época dirigia um grupo de música antiga voltado para a interpretação de obras basicamente medievais, renascentistas e barrocas da primeira fase, em Niterói, ele me sugeriu que escrevesse uma obra para o seu grupo, o Philharmonia Antiqua. Quando ele me descreveu a instrumentação e falou da possibilidade do uso de cantores, fiquei transtornado coma idéia. Um dia, já de volta a Ouro Preto, folheando algumas Revistas "Barroco", me deparei com o texto Barrocolagens, de Affonso Ávila, que me pareceu perfeito para uma obra atemporal de inspiração barroca. O texto já uma colagem de vários poetas portugueses, brasileiros e espanhóis dos séc. XVII e XVIII. No poema, o autor procura fazer uma leitura atemporal de Salvador. No caso da minha obra, procurei fazer uma leitura lúdica do cotidiano colonial sem especificar exatamente o lugar. O aspecto da teatralidade, associado à religiosidade sincrética, é ainda bem peculiar do interior do Brasil e esses são os elementos mais evidentes na peça. É uma mistura de ópera, pelo aspecto um tanto dramático, com oratório e cantata. Há uma adaptação bem livre da idéia de alternância entre recitativo e ária presente em obras do séc. XVIII e, na época, estava às voltas com reconstituição da Oratório ao Menino Deus para a Noite de Natal, de Ignácio Parreiras Neves (173?-179?).


Outras obras importantes obras suas que se seguiram a Memento Mori também se utilizavam canto, como o Concerto para violino, 12 instrumentistas e soprano, de 1988, e Finismundo, de 1991-92, sobre a obra homônima do Haroldo de Campos. Enquanto em Finismundo a teatralidade e um aspecto lúdico têm grande importância, o concerto, apesar de ter uma certa leveza, já é obra mais dramática, inclusive na homenagem a Drummond. A decisão de escrevê-las está ligada aos resultados de Memento Mori?


O Concerto para violino, 12 instrumentistas e soprano, de 1988, foi uma conseqüência direta do Memento Mori. Fiquei muito satisfeito com o resultado sonoro da obra anterior e queria explorar a idéia de um concerto para violino acompanhado por um conjunto de música antiga. Nunca tinha ouvido falar em nada parecido. O concerto segue uma estrutura semelhante à de uma suíte. Há a participação da voz de soprano que canta em vocalise, na maior parte do tempo, com exceção do momento em que se torna solista juntamente com o violino. Nesse momento, o pequeno poema Memória, de Carlos Drummond de Andrade é introduzido como uma homenagem ao poeta, que falecera naqueles dias em que trabalhava na composição da obra, em 1988. Quando estive na Europa pela primeira vez, em 1993, no festival de Dartington, Inglaterra, mostrei o concerto para vários colegas compositores de diferentes países e eles ficaram perplexos com a obra. O compositor dinamarquês Mogens Christensen, que trabalhava em Bergen, na Noruega, na época, chegou a levar o concerto para lá e posteriormente, me pediu todo o material para que o violinista espanhol Ricardo Odriozola pudesse executa-lo. O projeto só não aconteceu por que não conseguiram juntar todos os instrumentistas lá na Noruega, na época. A esposa do compositor, Helle Kristensen, é uma excelente intérprete de flauta doce, especializada em repertório contemporâneo e ficou fascinada com o uso do conjunto de flautas no concerto. Em 1994, escrevi para ela a obra Revoada, que foi gravada no CD dinamarquês "Birds of the Night". Muito tempo depois, ouvi o Concerto para violino e orquestra, de György Ligeti, escrito entre 1990 e 92. Nesse concerto, há o uso de ocarinas e flautas-doce, tocadas pelas madeiras da orquestra, no segundo movimento. Achei curioso o fato de alguns críticos dizerem que era uma coisa única e inédita. Em 2004, assisti a uma apresentação desse concerto ao vivo, em Berna, na Suíça, durante o World Music Days, onde estava como delegado brasileiro, e no programa diziam a mesma coisa. Não quero fazer comparações, pois no caso de Ligeti, ele queria estas sonoridades específicas, pois estava trabalhando com sistemas distintos de afinação. No meu caso, simplesmente tirei proveito do conjunto que tinha à minha disposição.


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Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui.

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