Villa-Lobos - Rudá, bailado ameríndio

01 Palavras de Villa-Lobos

02 Rudá (1951), para orquestra
I. Os Maias
II. Os Aztecas
III. Os Incas
IV. Os Marajoaras
V. A Vitória do Amor nos Trópicos

Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro
Mário Tavares, regente


Lançado nas comemorações do Sesquicentenário da Independência

Caravelle
MEC/MVL 005
1972

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(...)
Há irrecusável grandeza épica nos três atos de Rudá. A violência, a indomabilidade, a fúria que assemelham, antagonizam e associam o homem e a natureza não estão porém, aqui, desencadeados como elemento de puro instinto, jogados em refrega de vida e morte, em ciclo de amor que se renova a duras penas, no exercício permanente de existir e continuar.

Aqui um poeta se debruça a contemplar o fenômeno amor em estado puro, sua imaginação percorre um passado continental, ameríndio, e se engrandece na visão desse culto ao amor porque a ele associa a idéia de civilizações que nos antecederam neste mesmo chão onde povos ainda novos lutam por afirmar-se. É curioso ver que por volta de 1950 Villa-Lobos estava particularmente atraído pelos temas da jovem América. Rudá é de 1951: um ano antes ele havia composto Erosão, Lenda Ameríndia nº1, em 1952 apareceu sua décima sinfonia, chamada “Sinfonia Ameríndia”; em 1953, por encomenda da Orquestra de Louisville, e por ela gravada sob a regência do maestro Robert Whitney, Alvorada na Floresta Tropical. Além de se utilizar, em Rudá, de uma orquestra muito ampla, Villa-Lobos pede o concurso de instrumentos que acrescentam sonoridades bizarras, exóticas, instrumentos como o chocalho, o reco-reco, um raro saxofone sopranino, o sonovox, tudo para desenhar em sons as surpresas e os mistérios da selva e dos tipos que a habitam, tal como a sua extraordinária imaginação de músico concebe e com poder de convicção nos transmite, subjugando-nos a uma visão lírica, ciclópica, agreste.

Numa entrevista concedida em Nova York, em 1951, ano em que justamente se dedicava à composição desta obra, Villa-Lobos explicou que Rudá é um termo nheengatu, tupi-guarani, e que quer dizer DEUS DO AMOR, na mitologia marajoara.

Todo o motivo da obra, disse ainda o compositor, é em torno do amor na época precolombiana e não se limita aos marajoaras, embora deles venha o título, mas evoca também os maias, os aztecas e os incas. Não há, no bailado, argumento literário nem idéia teatral. Citando textualmente suas palavras: “Procurei fugir dos processos de estrutura dos bailados, que vêm desde a França do século dezoito, tendo sido um pouco transfigurados por Diaghilev. Aqui temos a dança pela dança”.

(...)
A idéia de porduzir um bailado de amplas proporções, destinado a preencher todo um espetáculo, partiu do então cenógrafo-chefe do Teatro Alla Scala, de Milão; razões diversas obstaram a concretização dessa idéia, mas sobrou na partitura o título italiano “Rudá Dio d'Amore”. A 30 de agosto de 1954 a obra musical foi dada pela Orquestra Nacional da Radiodifusão Francesa sob a regência do próprio compositor. E só chegou ao Brasil, em estréia americana, em 13 de novembro de 1971, pela Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência de Mário Tavares, dentro do quadro do Festival Villa-Lobos, que lança esta gravação feita na data referida.

Zito Baptista Filho

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