Claudio Santoro - Sinfonia nº5 (1955)


Sinfonia nº5 (1955), para orquestra

I. Andante - Allegro Moderato - Andante
II. Allegro Molto
III. Tema Variante
IV. Moderato


Orquestra Sinfônica Brasileira
Claudio Santoro, regente

Selo "FESTA"
1999

Gravação ao vivo, realizada em 28 de setembro de 1958, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro

DOWNLOAD (link atualizado em 17/11/2008)

Das obras de Cláudio Santoro já executadas, a sinfonia nº 5 é a que traduz a mais completa radicação do compositor no nacionalismo folclórico. Esse aspecto acusa-se, de modo especial, na plasticidade que se lhe observa quanto a maneira como procede na adaptação dos próprios recursos de expressão a natureza do código estético pelo qual se orienta. Em consequência, pode-se falar da sinfonia n°5 como sendo uma estaca mestra na evolução do compositor. Ela encerra a fase de aclimação de Cláudio Santoro ao nacionalismo e inaugura a de superação das pesquisas e experiências. É obra que representa penetrando, conscistente, na idade adulta como músico nacionalista.

1º movimento: ANDANTE - ALLEGRO MODERATO - ANDANTE. Dois temas alimentam a estruturação musical, que é vazada no Andante por fragmentos que se acumulam emergindo das cordas e toma corpo, integralmente, ainda nas cordas, penetrado de um sabor expressivo antes lírico. 0 segundo tema surge no Allegro Moderato. É igualmente reproduzido pelas cordas, em uníssono e diferenciado do primeiro por um caráter mais enérgico, embora guardando com ele uma relação intima. No Andante conclusivo o primeiro tema volta a aparecer na forma original e com os mesmos distintivos de expressão.
É esta a parte da obra mais exaustivamente trabalhada concebida com pormenorização, porém sem gastos inúteis. Tudo concorre para comunicar-lhe um belo equilíbrio arquiteturial. É um legítimo movimento de sinfonia. Dele o primeiro movimento da sinfonia nº5 possui a força e dignidade características.

2º movimento: ALLEGRO MOLTO. Aqui tem-se o "scherzo" da sinfonia. Impelido por um dinamismo transbordante, nele se entremeiam ritmos de danças brasileiras contendo alusão a uma festividade popular em pleno desenvolvimento. Uma fanfarra precede o episódio das danças, como que prenunciando com sonoridades apropriadas o ambiente de vibração em que elas irão se desenrolar. 0 elemento folclórico, se bem que pronunciando, perde a agressividade por efeito do tratamento a ele dispensado e tendente a incorpora-lo a trama musical como fator construtivo, apesar de condicionado a qualidade de agente de evocação. Num clima de forças emocionais manifestando-se sob a ação estimulante da dança, termina o "scherzo".


3.° movimento: TEMA VARIANTE. Corresponde este movimento a uma verdadeira noturnal negra, pois está impregnando de reminiscências africanas ganhando projeção no do cerimonial fetichista. 0 tema é um autêntico "ponto de xangô", assinalado pelo violino solista em toda a sua estranha e misteriosa beleza. Sobre êle o compositor constrói uma curta série de variações que antes são ligeiras modificações do tema que variações no sentido consagrado do termo e alcançando as camadas profundas do tema. O cunho de invocação mágica que se define no tema é realçado com insistência e habilidade, o que empresta um atrativo suplementar ao trecho. Um "fugato" de efeito irresistível põe em circulação um segundo motivo temático, que contraponta o primeiro em engenhosas combinações e chega a desempenhar papel destacado na urdidura musical.


4.° movimento MODERATO. Toda a eloquência dramática de que é capaz o compositor dir-se-ia que ele a havia reservado para esta oportunidade. 0 trabalho de estruturação, tendo por pretexto um único tema, no tocante á concepção instrumental desenrola-se em sonoridades orquestrais opulentas alternando com uníssonos, também eles, de uma veemência quase teatral. A certa altura, um soberbo cânone a 3 vozes, do qual participam trombones, cordas e madeiras, faz-se ouvir. Depois, a dramática progressão da linha musical avoluma-se á medida que se aproxima da Coda, quando surge, o tema "scherzo", já agora tratado por aumentação e dando lugar a um trabalho de contraponto muito cerrado e valendo pela declraçáo de eruditas preocupações.

A Sinfonia nº5 foi pela primeira vez executada no Rio de Janeiro, em 1956, pela Orquestra do Teatro Municipal, sob a regência do autor.

AYRES DE ANDRADE

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